Religião deveria ser sinônimo de amor ao próximo
Não consigo me desligar da polêmica gerada em torno do aborto que os médicos foram obrigados a fazer em uma menina de 9 anos no Recife. Este assunto nem deveria gerar discussão, se fosse considerado apenas o que mais importa, ou seja, o lado humano da questão. Mas há pessoas que consideram que o arcebispo de Olinda e Recife, D José Cardoso Sobrinho, está certo por expressar a posição da igreja que condena todo tipo de aborto. É lamentável que uma realidade tão dolorosa como esta, que poderia levar a menina à morte, não seja considerada por esses senhores, que se acham os donos absolutos da verdade e os portadores do passaporte para a vida eterna no céu onde eles certamente estarão.
Não consigo conceber uma religião que não leve em conta o amor ao próximo e que sempre procura justificativas em seus dogmas para todas as posições que toma, mesmo que tais posições estejam bem longe do bom senso e na contramão de tudo quanto foi ensinado por aquele que deveria ser o modelo a ser seguido. Nos ensinamentos de Jesus a caridade, a indulgencia e o desapego aos bens materiais estão na base de tudo e assim foi no começo do cristianismo, até que surgiu a igreja de Romana, que se expandiu e se transformou na maior instituição da idade média, controlando a ferro e fogo o comportamento dos fiéis. Aliás, era proibido ter outra fé que não fosse a católica, pois a punição poderia ser severa aos transgressores, podendo chegar à fogueira da santa inquisição.
Um artigo publicado no jornal O globo no dia 9/03 intitulado “não julguem a igreja sem conhecê-la” me chamou especialmente a atenção , pois, apesar de toda indignação popular dos últimos dias com a declaração do arcebispo de Recife e Olinda, o autor, querendo mostrar toda a sua erudição argumenta do alto de sua grande sabedoria que o religioso está coberto de razão, pois entende que o aborto cometido configura-se em um “crime gravíssimo”. E se a menina, por conta da proibição da igreja, levasse adiante a gravidez e morresse? Será que a igreja iria colocar-se como culpada pela morte tripla, isto é, da mãe e dos gêmeos? Obviamente que não. Por isso, o arcebispo perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado. Se não podia ajudar, que se calasse, pois era a melhor solução nesse caso.
Finalmente não posso deixar de citar o posicionamento da freira Ivone Gebara, que se mostra uma grande humanista. Em seu artigo para um jornal ligado a entidades cristãs intitulado “o cisma da hierarquia católica” ela argumenta que tais posicionamentos poderão causar um novo cisma dentro da igreja católica e que não identifica a Igreja à hierarquia católica. Para ela a hierarquia é apenas uma parte ínfima da Igreja e que a hierarquia da Igreja é servidora da comunidade dos fiéis e não pode em certas questões separar-se do sentido comum e plural da vivência da fé salientando que num mundo tão diverso e complexo como o nosso não podemos admitir que apenas a opinião de um grupo de bispos, homens celibatários e com uma formação limitada ao registro religioso, seja a expressão do seguimento da tradição do Movimento de Jesus.
Francisco Lima
2 comentários:
É, meu amigo... Em breves palavras nos foi passada a história recente da Igreja Católica, a qual diga-se de passagem, marcada pela incoerência em alguns tópicos, como este último, envolvendo o arcebispo de Olinda e Recife como você muito bem retratou.
Mudando de assunto mais no contexto, sabe aquela velha idéia de escrevermos algum juntos? Acho que ela já germinou, rs rs rs...Abraços, meu velho.
Parabéns Lima, apesar de ser católico concordo com tudo o que você escreveu, pois a Igreja Católica só pensou somente nos fetos e esqueceram de pensar na pobre menina que já passou pela situação do estupro que poderá abalar ela psicologicamente pelo resto de sua vida e além disso com o nascimento dos bebês poderia privar essa pobre criança do direito ao estudo, à diversãoe ao futuro.
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