quinta-feira, 26 de março de 2009

EIS UM GRANDE DESAFIO...

Eis um grande desafio.

A secretaria municipal de educação do município do Rio de Janeiro aplicou no inicio de março uma prova diagnóstica para os alunos do 2º ao 9º anos de toda rede. Desses, a principal preocupação recaía sobre os alunos de 6º ano (antiga 5ª série), pois muitos, de acordo com um levantamento feito pela secretaria de educação, chegavam até esse ponto sem ter aprendido a ler e escrever adequadamente, ou seja, como analfabetos funcionais. Mas, com base nas informações da própria secretária, Claudia Costin, podemos ir além e afirmar que milhares desses alunos estão na condição de quase analfabetos de fato, pois ela afirmou que, em muitos casos, eles não conseguem sequer juntar as letras para formar palavras. Sendo assim, não conseguir ler é uma conseqüência óbvia.
Posso, como observador de alguns casos ocorridos na 8ª CRE, mais especificamente na região de Realengo, levantar alguns questionamentos sobre essa situação, pois acredito que o mesmo poderia estar se verificando em muitas outras localidades, tal é a dimensão que tomou o problema. Eis os questionamentos: será que as escolas não sabiam ou não percebiam o que estava acontecendo? Será que os professores, que têm como uma das suas atribuições fazer o diagnóstico de cada aluno por meio de avaliações, também não conseguiram perceber esse problema e desse modo, deixaram de avisar as suas respectivas direções o que estava acontecendo? E o governo do Sr Cesar Maia, que investiu tudo que pôde nas obras do Pan e na Cidade da música, comprometendo os investimentos em educação e saúde, será que ele fez vistas grossas para um problema tão grave?
Todos os questionamentos acima podem ter uma resposta afirmativa, pois acredito ser impossível uma situação tão grave não ser percebida por nenhuma das esferas envolvidas. Os professores sabiam o que estava acontecendo e empurravam o problema para a série/ano seguinte, pois a aprovação automática, de acordo com o errôneo entendimento de muitos deles, lhes permitia passar o aluno sem que houvesse um diagnóstico da situação de aprendizado. Na região da 8ª CRE, em Realengo, muitos docentes faltavam ao trabalho alegando-se desmotivados devido ao “desinteresse dos alunos”. Isso significa que o motivo da falta era precisamente por que alunos nada sabiam da sua disciplina, sendo que o mesmo era alegado pelos outros professores. Há relatos de muitos alunos, com os quais conversei, que diziam ser comum os professores chamarem-nos de fracassados. Também, na mesma região citada, era muito comum os professores irem trabalhar, mas não darem aula, sempre dando o mesmo motivo para tal procedimento: a desmotivação. E os diretores nada faziam, pois observei que em muitos casos eles não conseguiam exercer nenhum controle sobre os docentes. Devido a esses problemas, até enviei uma carta à 8ª CRE em 2008, mas não observei nenhuma mudança de postura das escolas e nunca tive uma resposta da parte da coordenadoria.
Desse modo há evidências de que havia problemas sérios de aprendizagem por parte de muitos alunos, mas o problema foi sendo empurrado, ignorado mesmo por muitos diretores, que fingindo não ver o problema, não precisariam de enfrentá-lo. É até possível que outros diretores tenham querido buscar uma solução para esse problema tão grave mas, talvez tenha faltado apoio de cima, da secretaria municipal de educação. A educação não foi de modo algum prioridade do governo de Cesar Maia.
Para concluir, desejamos boa sorte para a nova secretária, pois o problema que ela resolveu encarar é de grandes proporções e não será fácil solucioná-lo em pouco tempo. Acredito até que não há soluções mágicas para a resolução rápida de algo que vem sendo ignorado há décadas. Há que ter persistência e acreditar que é possível, mas tem que haver engajamento de diretores e professores, algo que talvez seja bem difícil, se não houver uma mudança radical de paradigma por parte de muitos docentes. O desafio torna-se ainda maior se considerarmos o resultado da Prova que já está sendo divulgado. Entre 211 mil estudantes, mais de 25 mil não conseguem interpretar um texto e a Secretaria Municipal de Educação identificou 11.078 alunos do 6º ano que são capazes de identificar letras, mas sem condições de formar palavras e interpretar frases. Todos estes alunos são considerados analfabetos funcionais.
Mesmo assim o desafio maior será de agora em diante e já está posto, sendo que somente com a contribuição de todas as partes envolvidas no processo se chegará ao fim desejado.

Francisco Lima.

quinta-feira, 19 de março de 2009

QUEM É IGNORANTE?

Quem é ignorante?

Se formos analisar a etimologia da palavra, chegaremos à conclusão de que ignorante é todo aquele que ignora algum assunto, sendo que, em muitos casos, ele não sabe ou não aceita essa suposta ignorância. Dessa forma, existem pessoas que não se aprofundam em quase nenhum assunto, mas se acham sabedores dos mais diversos temas. Quase tudo o que se discute, ele sempre tem uma opinião formada.
Do ponto de vista da Filosofia socrática, a pessoa que assim age está na fase do ignora que ignora, ou seja, como já foi dito alhures ele não sabe ou não tem consciência da sua ignorância.
Mas também existe outro tipo de ignorante, que diferentemente do primeiro tipo citado, está sempre inquieto, ávido de conhecimento acerca de vários assuntos. Esse cara sabe o quanto ignora e, por isso, tenta desesperadamente se embasar nos mais diversos assuntos a que teve o privilegio de ter sido introduzido através da leitura. Até que entende que é uma tarefa demasiadamente árdua, pois ninguém sabe tudo. Esta espécie designou a Filosofia socrática do ignorante que sabe que ignora, pois o estudo, a leitura constante tem o papel de mostrar para esse individuo o quanto ele ainda precisa saber.
Dentro dos vários caminhos percorridos pelo sujeito, ele pode escolher um que lhe seja mais agradável e se aperfeiçoar, através mestrado, doutorado etc. mas continuará com muitas lacunas, duvidas acerca de outros caminhos que não foram os escolhidos por ele, visto que ele teve que fazer uma escolha dentre muitas.
Continuando assim o sujeito sem perceber vai se transformando em outro tipo designado na Filosofia socrática. Esse é o cara que de tanto estudar acaba ignorando o quanto sabe. Assim a pessoa estudou tanto que já não consegue mensurar o quanto sabe, estando num grau de saber muito acima da média dos demais seres humanos.
Em suma estudar é saudável, mas é um caminho árduo que pode nos levar em determinados momentos a muitas duvidas, conflitos, frustrações etc. mas é também, a meu ver, um dos poucos caminhos que pode nos levar a ter uma compreensão melhor da vida, tendo uma visão mais critica da realidade que nos circunda.

Francisco Lima

UMA INVERSÃO DE PRIORIDADES...

Uma inversão de prioridades

Não sou contrário aos programas de inclusão digital, pois sei que pode representar oportunidades para muitas pessoas, especialmente os mais necessitados, que muitas das vezes conseguem oportunidades no mercado de trabalho pelo simples fato de fazer um curso de informática através desses programas. Entretanto, o que está acontecendo na secretaria estadual de educação do RJ e uma completa inversão de prioridades, pois, existem problemas básicos como a falta de professores, a baixa remuneração docente e outros tantos que pedem urgência na sua resolução, mas tem sido completamente ignorados durante anos. Todos esses problemas foram constatados pelo secretário anterior, Nelson Maculam, que inclusive disse que a educação estadual estava falida. Pois bem ele foi demitido por ter colocado as cartas na mesa, isto é, por querer resolver todas essas carências, não tendo apoio do governador Sergio Cabral.
Agora estamos vivendo uma situação que talvez não seja do conhecimento do publico em geral, visto que isto não é divulgado muito na grande imprensa. Enquanto a falta de professores vai se tornado um problema de difícil solução, pois a fuga da rede é algo espantoso, com milhares de professores saindo todo ano, entre aposentadorias e pedidos de exoneração, pois cada vez menos professores querem passar pela situação de ganhar 600 reais e encarar tantas situações adversas. Enquanto isso a nossa secretária de educação em vez de contratar novos docentes, resolveu diminuir o número de turmas, ou seja, as turmas ficaram ainda mais lotadas, tornando praticamente inviável o trabalho do professor. É comum turmas com sessenta alunos em espaços que mal cabem quarenta. Pelo exposto, dá para imaginar a situação dos professores, tendo que fazer mágica para dar aula. Como se fosse possível dar uma aula decente em uma situação como esta!!
A distribuição de Laptops para os professores e agora para todas as salas de aula do Estado, até que seria uma boa resolução se não houvessem os problemas citados, sendo que todos requerem muito mais urgência. Não dá para pensar em informatização sem antes resolver os problemas básicos de uma rede de educação que sequer pensa em remuneração digna para os seus docentes.
A distribuição de computadores é mais um artifício para que a imagem do nosso governador esteja para sempre atrelada a este feito, mas os problemas da educação do Rio de Janeiro precisam ser vistos com mais seriedade e não serão as falsas promessas e o discurso demagógico que resolverão tais problemas.

Francisco Lima

quinta-feira, 12 de março de 2009

NOSSA VIDA É FEITA DE ESCOLHAS...

Nossa vida é feita de escolhas

Sempre digo que a nossa vida é feita de escolhas, às vezes essas escolhas não são muito conscientes, sendo mais uma conseqüência das circunstâncias da vida do que propriamente um caminho escolhido dentre outros por nós, Isto é, não conseguimos, naquele momento da nossa existência, por diversos motivos enxergar muitas outras possibilidades. Ainda assim não deixa de ser um caminho que a gente trilhou, consciente ou não de onde ele poderia nos levar, sendo que sempre podemos buscar alternativas que consideremos melhores.
Sabemos que muitas pessoas nascem em situação privilegiada, em famílias estruturadas financeiramente, tendo teoricamente, desse modo, uma situação mais fácil para que façam uma escolha consciente, que lhe assegure um futuro garantido. Porém isso nem sempre acontece. Por que será? Talvez pelo fato de o dinheiro não ser tudo em nossas vidas, não estando sequer entre as coisas mais importantes da vida, pois o dinheiro satisfaz as necessidades matérias, mas não compra os verdadeiros afetos e não substitui o carinho, o diálogo o amor enfim que todos os país devem demonstrar pelos seus filhos. Nas famílias mais abastadas, salvo as exceções, tudo o que mais importa é a busca desenfreada pelo dinheiro, sendo que essas famílias não tem o fundamental, que é a convivência.
Por outro lado sabemos também que há pessoas que nascem em situações completamente adversas e que, ainda assim, conseguem trilhar um caminho de sucesso, transformando-se em cidadãos exemplares. Um bom exemplo disso é o rapaz que viveu doze anos nas ruas de Recife e conseguiu passar no concurso do Banco do Brasil, superando outras dezenas de milhares de candidatos que tinham todas as condições favoráveis. Tudo isso por que ele escolheu trilhar um novo caminho.
Em suma dei todo esse rodeio para chegar ao meu objetivo principal que é demonstrar até aonde a nossa vontade, ou a ausência dela pode nos levar. Se tivermos vontade, superamos todas as barreiras, mesmo as que nos parecem intransponíveis, mas se não a tivermos corremos e risco de fracassarmos, mesmo tudo estando a nosso favor.
Para concluir vou usar uma frase que sempre digo para minha filha adolescente, todas as vezes que a vejo desanimar-se e digo também para os meus alunos, mesmo os adultos: Nossa capacidade está no limite da nossa vontade, pois se tivermos vontade chegaremos longe.

Francisco Lima

quarta-feira, 11 de março de 2009

RELIGIÃO DEVERIA SER SINÔNIMO DE AMOR AO PRÓXIMO...

Religião deveria ser sinônimo de amor ao próximo

Não consigo me desligar da polêmica gerada em torno do aborto que os médicos foram obrigados a fazer em uma menina de 9 anos no Recife. Este assunto nem deveria gerar discussão, se fosse considerado apenas o que mais importa, ou seja, o lado humano da questão. Mas há pessoas que consideram que o arcebispo de Olinda e Recife, D José Cardoso Sobrinho, está certo por expressar a posição da igreja que condena todo tipo de aborto. É lamentável que uma realidade tão dolorosa como esta, que poderia levar a menina à morte, não seja considerada por esses senhores, que se acham os donos absolutos da verdade e os portadores do passaporte para a vida eterna no céu onde eles certamente estarão.
Não consigo conceber uma religião que não leve em conta o amor ao próximo e que sempre procura justificativas em seus dogmas para todas as posições que toma, mesmo que tais posições estejam bem longe do bom senso e na contramão de tudo quanto foi ensinado por aquele que deveria ser o modelo a ser seguido. Nos ensinamentos de Jesus a caridade, a indulgencia e o desapego aos bens materiais estão na base de tudo e assim foi no começo do cristianismo, até que surgiu a igreja de Romana, que se expandiu e se transformou na maior instituição da idade média, controlando a ferro e fogo o comportamento dos fiéis. Aliás, era proibido ter outra fé que não fosse a católica, pois a punição poderia ser severa aos transgressores, podendo chegar à fogueira da santa inquisição.
Um artigo publicado no jornal O globo no dia 9/03 intitulado “não julguem a igreja sem conhecê-la” me chamou especialmente a atenção , pois, apesar de toda indignação popular dos últimos dias com a declaração do arcebispo de Recife e Olinda, o autor, querendo mostrar toda a sua erudição argumenta do alto de sua grande sabedoria que o religioso está coberto de razão, pois entende que o aborto cometido configura-se em um “crime gravíssimo”. E se a menina, por conta da proibição da igreja, levasse adiante a gravidez e morresse? Será que a igreja iria colocar-se como culpada pela morte tripla, isto é, da mãe e dos gêmeos? Obviamente que não. Por isso, o arcebispo perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado. Se não podia ajudar, que se calasse, pois era a melhor solução nesse caso.
Finalmente não posso deixar de citar o posicionamento da freira Ivone Gebara, que se mostra uma grande humanista. Em seu artigo para um jornal ligado a entidades cristãs intitulado “o cisma da hierarquia católica” ela argumenta que tais posicionamentos poderão causar um novo cisma dentro da igreja católica e que não identifica a Igreja à hierarquia católica. Para ela a hierarquia é apenas uma parte ínfima da Igreja e que a hierarquia da Igreja é servidora da comunidade dos fiéis e não pode em certas questões separar-se do sentido comum e plural da vivência da fé salientando que num mundo tão diverso e complexo como o nosso não podemos admitir que apenas a opinião de um grupo de bispos, homens celibatários e com uma formação limitada ao registro religioso, seja a expressão do seguimento da tradição do Movimento de Jesus.

Francisco Lima

terça-feira, 10 de março de 2009

NÃO PRECISAMOS SER IGUAIS....

Gente desculpe o que parece ser meio melancólico, mas eu escrevi isso na virada de 2008 para 2009 e não divulguei para ninguém. Aliás, até eu mesmo havia me esquecido desse texto.

Não precisamos ser iguais....

O último dia do ano deveria ser um dia de alegria para todo mundo. Nem sempre é assim. Há pessoas que por diversos motivos não se sentem totalmente alegres, outras questionam esse tipo de “confraternização” , em que pessoas que você suspeita ou até mesmo sabe que não te são muito simpáticas, de repente, num súbito acesso de euforia resolvem te abraçar e te desejar todas as alegrias do mundo no ano que virá, ainda que não estejam sentindo nada disso, o que geralmente acontece, só verbalizando o que já é do costume fazê-lo.
Algumas pessoas mais práticas ou até certo ponto sinceras, como este que vos escreve são taxadas de anti-social ou outros adjetivos que qualifiquem todos aqueles que se negam a seguir um modelo padronizado de comportamento. Muitas pessoas seguem esse modelo ainda que para isso tenham que, muitas das vezes, negar sua própria essência, isto é, mostrar uma simpatia superficial tentando esconder os seus verdadeiros sentimentos diante dos algum desafeto. Em tais casos comumente sabemos que a aversão é mútua e ainda assim fazemos um esforço para nos mantermos bem quistos na sociedade.
A partir de 1º de janeiro, tudo volta a ser como antes, os desafetos voltam a ser os mesmos e continuamos cercados por aqueles com os quais mais nos afinamos.
Mas, será que precisamos agir assim? Será que temos que negar a nossa essência para sermos aceitos em sociedade?
Eu defendo que não e acho que podemos ser o que somos, nos cercarmos, sempre que possível, somente das pessoas de quem gostamos e se isso não for possível existe algo muito importante que podemos fazer: aproveitarmos, se isto for possível, para exercitarmos o que temos de melhor e que, na maioria das vezes, só fica na intenção. Estou falando do amor pelo próximo, da ajuda aos que precisam, sendo isso uma forma de nos sentirmos bem e ao mesmo tempo de sairmos do lugar comum dos beijos e abraços sem sentimentos nobres ou, o que acontece na maior parte das vezes, fugirmos das representações onde os lábios expressam o que os olhos desmentem.

Francisco Lima