terça-feira, 22 de setembro de 2009

O ESTADO E AS COMUNIDADES CARENTES...

O estado e as comunidades carentes
Estava vendo um vídeo de uma reportagem sobre uma festa promovida pelo tráfico numa favela em Diadema, São Paulo e observei que no evento em questão havia de tudo em abundancia, desde carne e cerveja até drogas como cocaína e maconha que eram servidos “self-service”. Um promotor de justiça disse que os promotores da festa tentavam vender a imagem de que o poder público esteve sempre ausente e que eles (os traficantes) é que ocupariam esse vazio deixado por essa ausência. Cabe-nos então uma pergunta: será que o estado está sempre presente, da maneira que deveria, nessas localidades? Gostaria muito de responder positivamente a esse questionamento, mas infelizmente a realidade me impede de fazê-lo. É notória a ausência do poder público na maioria das comunidades carentes e quando sua presença é sentida geralmente é o aparelho policial que se faz presente e quase sempre de forma coercitiva e com uso abusivo da violência e, não raro, fazendo vítimas inocentes nessa guerra sem fim.
Pensando um pouco nessa questão da violência policial me veio à cabeça um conceito que é muito debatido nos meios acadêmicos e que eu não pude deixar de associá-lo ao que acontece nessa relação policia ou Estado x comunidades carentes. Refiro-me à legitimidade e acho que muitas das vezes esta relação pautada na violência não cria a empatia e outros elementos necessários para tornarem o laço entre essas comunidades e o estado algo duradouro, sendo que na maior parte das vezes o estado está personalizado no aparelho policial, pois sabemos que nesses locais a falta infra-estrutura, de saneamento básico, educação e saúde de boa qualidade entre outras coisas fazem com que essas populações se sintam abandonadas pelo estado. De acordo com o etnólogo Frances Georges Balandier: “O poder estabelecido unicamente sobre a força ou sobre a violência não controlada teria uma existência constantemente ameaçada [...] ele só se realiza e conserva pela transposição, pela produção de imagens, pela manipulação de símbolos e sua organização em um quadro cerimonial”. Pelo exposto, nota-se que é urgente que o estado mude a sua imagem junto a essas populações.
Em muitas comunidades cariocas a ausência do estado criou mitos em torno da figura de muitos traficantes que souberam manipular habilmente o imaginário do povo e ao mesmo tempo estavam presentes nos momentos mais difíceis, socorrendo-os nas mais diversas necessidades. Dois exemplos disso são os traficantes Tonicão e Jorge Luis, ambos da favela de Acari e que comandaram o trafico de drogas naquela região na metade dos anos noventa. O primeiro teria entrado para o trafico por ter visto a sua família assassinada pela policia e quando se tornou chefe, segundo os moradores, botou moral na favela. Os “viciados” tinham o seu local próprio (dentro mato) para consumir a droga e, se alguém fosse pego urinando perto de senhoras sofreria uma punição rigorosa. Ele tinha o costume também passear pela comunidade mandando as crianças irem para a escola, chamando atenção dos pais, obrigando-os a fazer a matricula dos seus filhos com punições em caso de reincidência e dissolvia rodinhas de bate-papo formadas por mulheres alegando que ali “era o nascedouro de todas as fofocas. Não admitia, em hipótese alguma, crianças trabalhando no tráfico e promovia festas para os moradores em datas festivas. Por essas e outras razões, tornou-se uma unamidade entre os moradores que não o consideravam bandido, pois ele só fazia que fosse justo e correto de acordo com a opinião de toda a comunidade. Jorge Luis, que o sucedera adotou a mesma linha de atuação e, segundo consta, era enfermeiro, mas reza a lenda que ele se revoltou e entrou para o tráfico porque um dia, quando saía de madrugada de casa para o trabalho, foi parado pela polícia e tomou várias tapas na cara. Ele não conseguiu a mesma notoriedade do seu antecessor e ex-chefe, mas a sua política assistencialista deixa muitos moradores de Acari saudosos “dos tempos do Jorge Luis”.

O relatado acima se repete em muitas outras comunidades e esses chefes acabam se legitimando por criarem historias que dão conta da fatalidade que envolve suas vidas. Isto é, eles acabaram entrando para o trafico sempre motivados por uma ou outra circunstancia que quase sempre está associada à violência policial. Eles tiveram “motivos justos” para entrar para a atividade criminosa. Nesse sentido, passam a ser vistos não mais como criminosos e sim como alguém que “foi obrigado” a seguir esse caminho para fazer justiça. A ausência do estado e a violência policial acabam sendo habilmente utilizadas por esses chefes, que se apresentam como justos e corretos, satisfazendo, na medida do possível, algumas necessidades básicas dessa população carente de quase tudo. Assim, catalisam a seu favor todo o descaso de um estado omisso e o despreparo de uma policia que tenta se impor pela violência. Com certeza, não é esse o caminho e é necessária a busca de outra estratégia com urgência.

sábado, 5 de setembro de 2009

A RELIGIÃO TEM QUE SER VIVENCIADA COM EXEMPLOS...


São inacreditáveis as barbaridades que se fazem em nome da religião. Os ensinamentos daquele que era para ser o modelo para todas as religiões cristãs foram totalmente esquecidos faz bastante tempo. Grande parte das denominações religiosas não é mais que uma forma, talvez mais rápida e fácil, de enriquecer os seus principais líderes, ou seja, em muitos casos a religião está virando uma espécie de comercio, mas um comércio diferente onde não se compra nada de material, mas adquiri-se, supostamente, um passaporte para o céu e essa “viagem” pode ser em classe econômica ou especial, dependendo do poder aquisitivo de cada fiel.

Mas, falando um pouco mais serio é bastante difícil de encontrarmos religiões onde não há pessoas preocupadas com a vida alheia, procurando motivos para criticar seu “irmão ou irmã” que está com a mesma roupa que estivera no ultimo encontro. Esses “irmãos têm o único intuito de achar motivos para se divertir às custas alheias e futilidades desse tipo não deveriam existir em um ambiente onde, em tese, todos deveriam buscar o crescimento interior. Trocando em miúdos, nem todas as pessoas que estão numa casa religiosa, seja ela uma igreja centro espírita ou qualquer outro templo destinado a prática religiosa, têm em mente propósitos mais sérios, fazendo da religião uma extensão da rua onde predominam a intriga e a fofoca. A religião nesse sentido, para essas pessoas, é mais uma forma de entretenimento, onde se podem colocar as fofocas em dia, falar das novidades que quase sempre envolvem algum “amigo em comum”.

Tá bom vamos dar um desconto, pois estamos falando de seres humanos e quase todos tem os seus defeitos e eu não escondo que também tenho os meus, pois cá estou também a falar dos defeitos alheios e escondendo as muitas mazelas que me dizem respeito e que só quem convive comigo de perto conhece um pouco delas. Um pouco, pois eu procuro escondê-las como a maioria dos seres humanos o fazem. Entrementes, ainda que incorra no engano de criticar os mesmos erros que hora cometo, o faço com a melhor das intenções, mesmo sabendo que o inferno anda cheio de gente com boas intenções, uso essa prerrogativa para fazê-lo. E o farei porque acredito que a religião deveria ser o espaço para nos despojarmos das nossas mazelas, um espaço para refletirmos e buscarmos nos aproximar cada vez mais do criador, pelo menos se fossemos agir conforme indica a etimologia da palavra “religião” que significa ligar novamente, ou simplesmente religar, isto é, a religião seria o espaço para nos ligarmos novamente ao criador de todas as coisas. Mas, aparentemente não é isso o que vem acontecendo.

Observando o comportamento de muitas pessoas que frequentam as mais diversas religiões, vemos que é muito comum que esses fiéis julguem que somente a sua religião é portadora da verdade absoluta. As demais religiões seriam um engodo e muitas dessas pessoas se julgam tão podereosas e tão prepotentes e confiantes no poder que emana da sua religião, especialemente no caso de muitos católicos, que todas as demais denominações relogiosas tranformam-se em seitas. Em um belo trabalho realizado na favela de Acari entitulado “As cores de Acari” e que serviu como sua tese de doutorado o antropólogo Marcos Alvito fez uma excelente etinografia daquela comunidade. Quando partiu para o estudo das religiões, as evangélicas tiveram um destaque especial por serem mais numerosas na comunidade. Essas religiões são divididas em pentecostais, neopentecostais, historicas etc. Nas entrevistas, ele pôde observar que todas elas tem a sua estratégia prórpia para atrair os fieis, mas quase não há exceção quando o assunto são as outras denominações, pois quase todos os lideres sempre encontram muitos motivos para criticar os seus “colegas”.
Entrevistando um pastor da assembleia Deus, que é a igreja mais rigorosa em muitos aspectos, observou o pesquisador que o referido lider religioso ocupou muito do seu tempo em criticar as “outras religiões evangélicas”, principlamente no que ele (o pastor)considerava a pequenês das outras religiões, ou seja a pobreza da qual não sairiam nunca na opinião dele e ressaltou que: Para ser bom pastor tem que ser igual a ele consagrado na igreja matriz da sua denominação, sendo que todos os que fizerem difrente do que ele faz(no tocante aos cultos) irão prestar contas no juízo final, ou seja, o céu pode estar reservado apenas para ele e os seus pares.

Mas unanimidade negativa, no entanto, são os chamados “macumbeiros”.Esses, definitivamente são os alvos preferidos de quase todas as religiões, especialmente as chamadas evangélicas, que elegeram os irmãos praticantes dos cultos afro-brasileiros como bodes espiatórios e quase todas as vezes que vão fazer referência à figura mítica do demônio(talvez o nome mais falado em muitos cultos evangélicos) o associam automaticamente aos cultos de origem africana. Ficando apenas por aqui, dá para se ter uma idéia de um dos motivos que levam tantos féis a tecer críticas e fazer intrigas, usando a igreja ou qualquer outra “casa religosa” como espaço de convivencia social, mas que não contribui para a elevação do espírito, sendo que em muitos casos não há a verdadeira sociabilidade, a solidariedade e, principalmente, o desejo de mudança interior. Pode-se creditar essa situação, em parte, aos exemplos vindos de cima, isto é, ao fato de muitos líderes religiosos não darem os exemplos que derveriam para que sirvam de espelhos para os seus fiéis.

Francisco Lima