A culpa, o medo, o fanatismo religioso....
Quem já não se sentiu culpado uma vez ou outra na vida? Às vezes nos deixamos levar pela empolgação de um gole a mais e quando nos damos conta já passamos de um limite recomendável ou do limite socialmente aceitável. Nesse estado, vez por outra, a empolgação pode nos levar a falar determinadas coisas ou cometer determinados atos que dificilmente aconteceriam se estivéssemos no “juízo perfeito.”
Mas, as vezes, tudo pode ser resolvido com um pedido de desculpas que, em tese, nos livraria da culpa pelo arrependimento dos atos praticados, dependendo da gravidade desses atos.
No entanto, o medo e a culpa sempre foram utilizados pelas religiões para incutir nos seres humanos a necessidade deles se afastarem das chamadas tentações que poderiam levá-los a cometer pecados. O medo dos desvios levaria supostamente à melhoraria de conduta, mas depois do erro cometido sobrevém a culpa que pode não durar muito no caso dos católicos, pois as prescrições podem variar chegando a algumas centenas de padre nossos e ave-marias que tendem a expurgar ou deletar os pecados se eu me utilizar um termo mais atual.
Em suma, na sua essência, a religião está assim, intimamente ligada ao medo de duas formas. Se por um lado, usa-o para alimentar a fé dos fieis; por outro, é fomentada pelo irracional medo do desconhecido inerente à natureza humana. Isto é, vivemos com medo do fogo do “inferno” e tentamos amealhar virtudes para que possamos habitar o paraíso dos justos pela a vida eterna. Ainda que as virtudes sejam apenas aparentes, o que acontece muitas das vezes em nossa sociedade em que as pessoas são o que parecem ser.
No entanto, o medo de “cometer pecados” segundo o que seria pregado pela “visão tradicional” de algumas religiões ocidentais leva muita gente à paranoia e não poucos a interpretações errôneas sobre o verdadeiro sentido do que seriam as religiões.
A paranoia moderna é o fanatismo que está deixando muita gente perturbada e muitos chegam verdadeiramente à loucura por essa razão. Com essa deturpação ou interpretação equivocada do verdadeiro espírito religioso, muitas pessoas estão se tornando intransigentes, intolerantes e até mesmo agressivas com quem não comunga da sua mesma fé.
É perigoso demais esse fenômeno que vem se alastrando como um rastilho de pólvora sendo propagado por pessoas intelectualmente e emocionalmente despreparadas e que só enxergam a oposição maniqueísta bem e mal que se opõem de maneira absoluta. Tal visão é uma distorção e um reducionismo grosseiros do verdadeiro sentido do que seriam as religiões.
De acordo com alguns estudiosos, o fanatismo pode florescer, sobretudo no âmbito do ressentimento, da revanche, da superação de uma humilhação. E ainda mais se os ressentidos julgam que se trata de uma humilhação injusta e indevida, sobretudo em contraste com um período de esplendor perdido e que deve ser recuperado a todo custo. O quadro se completa se, além disso, for possível identificar um inimigo (real ou imaginado), responsável pelo atual período de decadência.
Jean Lauand, Prof. Titular da Univesidade do Porto em portugal nos dá o belo exemplo que explica de certo modo o que está no paragrafo anterior. Segundo ele:
“Hitler não era meramente um desequilibrado que por métodos de terror enganou o povo alemão. Hitler apresentava-se como a real esperança de uma Alemanha humilhada e ressentida pelo esmagador Tratado de Versailles que lhe fora imposto (cabe lembrar que, em certos meios cristãos, Hitler era bem visto: por exemplo, Julián Marías conta em suas memórias que na Espanha oficialmente católica pós-guerra civil: “Hitler e Mussolini eram os ‘salvadores da civilização ocidental’ e piedosas senhoras punham o retrato de Hitler ao lado da imagem de Nossa Senhora do Pilar. A encíclica de Pio XI Mit brennender Sorge, contra os erros e perigos do nacional-socialismo, era proibida”; para aquele catolicismo oficial, o Führer era visto até mesmo como o “salvador da cristandade”).”
Muitos outros horóis às avessas surgem por aí e são aclamados e endeusados pelos povos oprimidos que, muitas vezes, já não têm esperança de uma vida melhor. Bin Laden também pode ser apontado com um exemplo desse tipo.
Aliás, um dos pontos chaves, a meu ver, está no sofrimento, na opressão, na miséria etc. que leva esse povo carente de tudo a acreditar em muitos charlatãos que surgem de tempos em tempos pregando um céu exclusivo para os seus seguidores.
São os novos milenarismos que surgem justamente em um tempo de prufunda descrença e desesperança. Talvez por isso mesmo tais pregadores obtenham sucesso em sua empreitada, mesmo sendo os seus discursos desprovidos de profundidade e até mesmo de coerência em alguns casos.
Os conceitos de liberdade e religião são disctitidos pelo mesmo professor citado acima que assevera:
“Quanto mais glória, quanto mais história, quanto mais orgulho tiver havido antes da decadência, quanto mais “indevida” for a situação de miséria atual, tanto mais êxito fácil alcançará o líder que souber canalizar os ressentimentos da massa que, guiada pela retórica e pelos resultados espetaculares da seita ou do movimento, não se importará muito com a supressão da liberdade e a falta de ética dos métodos utilizados. Afinal, o grupo de eleitos está numa missão e eles são os “autênticos fiéis”, a militância de Deus.”
E prosegue afirmando:
“Há alguns ingredientes que podem catalisar e agudizar essa consciência de revanche de Deus por parte de instituições radicais: o anúncio, mais ou menos velado, da proximidade do fim do mundo - uma constante nos fanatismos cristãos, embora o próprio Jesus Cristo, quando perguntado, alegou não saber quando ocorreria (Mt 24, 36) -, a propensão a difundir disparatadas “profecias” e “aparições” que “confirmem” os “sinais” de que o fim dos tempos está muito próximo e o “Anticristo” já está circulando por aí... sinais que, como era de esperar, incluem a “imoralidade nunca vista” dos nossos tempos. É o ressentimento contra a secularização, a mídia, o mundo, que erradicaram o sagrado e o hostilizam...”
Diante de tudo o que foi exposto, dá para se ter uma noção do perigo representado pelo fanatismo religioso. Muitas vezes, as pessoas fanáticas perdem a capacidade de pensar racionamente e levam quase tudo para o âmbito da sua fé. Todos os que não comungam da sua religião, não raro, são vistos como inimigos em potencial.
Nesse sentido, o Deus vingador expresso em algumas partes da biblia como na passagem de atos 17 que diz:
(“...) A ira de Deus está sendo “reservada” e está para ser direcionada para aqueles que rejeitam a revelação de Deus sobre Ele mesmo.”
Esse Deus que se vinga daqueles que o rejeitam se encaixa como uma luva no discurso radical e irracional desses “pregadores da boa nova.”
Mas a sociedade contemporânea já é suficientemente complicada e cheia de culpas e medos para que busquemos ainda mais sofrimentos ancorados num suposto sentido religioso. Vivemos cheios de fobias (medos) e criamos verdadeiros monstros como a síndrome do pânico que além do medo nos tira o que é fundamental para qualquer ser humano que é a liberdade.
Trabalhamos muito para dar boa educação e tudo do bom e do melhor para a nossa família, mas ficamos culpados por não termos muito tempo para os nossos filhos que muitas vezes crescem sem nos darmos conta disso. Temos que conciliar muitos afazeres (principalmente as mulheres) e muitas vezes não temos tempo suficiente para dar conta de tudo.
Enfim, não precisamos buscar outras formas ou maneiras de nos tolhermos em uma sociedade que já não nos dá o direito à liberdade devido à banalização da violência e na qual o medo e culpa já está presente no cotidiano de quase todos nós.
Francisco Lima
Quem já não se sentiu culpado uma vez ou outra na vida? Às vezes nos deixamos levar pela empolgação de um gole a mais e quando nos damos conta já passamos de um limite recomendável ou do limite socialmente aceitável. Nesse estado, vez por outra, a empolgação pode nos levar a falar determinadas coisas ou cometer determinados atos que dificilmente aconteceriam se estivéssemos no “juízo perfeito.”
Mas, as vezes, tudo pode ser resolvido com um pedido de desculpas que, em tese, nos livraria da culpa pelo arrependimento dos atos praticados, dependendo da gravidade desses atos.
No entanto, o medo e a culpa sempre foram utilizados pelas religiões para incutir nos seres humanos a necessidade deles se afastarem das chamadas tentações que poderiam levá-los a cometer pecados. O medo dos desvios levaria supostamente à melhoraria de conduta, mas depois do erro cometido sobrevém a culpa que pode não durar muito no caso dos católicos, pois as prescrições podem variar chegando a algumas centenas de padre nossos e ave-marias que tendem a expurgar ou deletar os pecados se eu me utilizar um termo mais atual.
Em suma, na sua essência, a religião está assim, intimamente ligada ao medo de duas formas. Se por um lado, usa-o para alimentar a fé dos fieis; por outro, é fomentada pelo irracional medo do desconhecido inerente à natureza humana. Isto é, vivemos com medo do fogo do “inferno” e tentamos amealhar virtudes para que possamos habitar o paraíso dos justos pela a vida eterna. Ainda que as virtudes sejam apenas aparentes, o que acontece muitas das vezes em nossa sociedade em que as pessoas são o que parecem ser.
No entanto, o medo de “cometer pecados” segundo o que seria pregado pela “visão tradicional” de algumas religiões ocidentais leva muita gente à paranoia e não poucos a interpretações errôneas sobre o verdadeiro sentido do que seriam as religiões.
A paranoia moderna é o fanatismo que está deixando muita gente perturbada e muitos chegam verdadeiramente à loucura por essa razão. Com essa deturpação ou interpretação equivocada do verdadeiro espírito religioso, muitas pessoas estão se tornando intransigentes, intolerantes e até mesmo agressivas com quem não comunga da sua mesma fé.
É perigoso demais esse fenômeno que vem se alastrando como um rastilho de pólvora sendo propagado por pessoas intelectualmente e emocionalmente despreparadas e que só enxergam a oposição maniqueísta bem e mal que se opõem de maneira absoluta. Tal visão é uma distorção e um reducionismo grosseiros do verdadeiro sentido do que seriam as religiões.
De acordo com alguns estudiosos, o fanatismo pode florescer, sobretudo no âmbito do ressentimento, da revanche, da superação de uma humilhação. E ainda mais se os ressentidos julgam que se trata de uma humilhação injusta e indevida, sobretudo em contraste com um período de esplendor perdido e que deve ser recuperado a todo custo. O quadro se completa se, além disso, for possível identificar um inimigo (real ou imaginado), responsável pelo atual período de decadência.
Jean Lauand, Prof. Titular da Univesidade do Porto em portugal nos dá o belo exemplo que explica de certo modo o que está no paragrafo anterior. Segundo ele:
“Hitler não era meramente um desequilibrado que por métodos de terror enganou o povo alemão. Hitler apresentava-se como a real esperança de uma Alemanha humilhada e ressentida pelo esmagador Tratado de Versailles que lhe fora imposto (cabe lembrar que, em certos meios cristãos, Hitler era bem visto: por exemplo, Julián Marías conta em suas memórias que na Espanha oficialmente católica pós-guerra civil: “Hitler e Mussolini eram os ‘salvadores da civilização ocidental’ e piedosas senhoras punham o retrato de Hitler ao lado da imagem de Nossa Senhora do Pilar. A encíclica de Pio XI Mit brennender Sorge, contra os erros e perigos do nacional-socialismo, era proibida”; para aquele catolicismo oficial, o Führer era visto até mesmo como o “salvador da cristandade”).”
Muitos outros horóis às avessas surgem por aí e são aclamados e endeusados pelos povos oprimidos que, muitas vezes, já não têm esperança de uma vida melhor. Bin Laden também pode ser apontado com um exemplo desse tipo.
Aliás, um dos pontos chaves, a meu ver, está no sofrimento, na opressão, na miséria etc. que leva esse povo carente de tudo a acreditar em muitos charlatãos que surgem de tempos em tempos pregando um céu exclusivo para os seus seguidores.
São os novos milenarismos que surgem justamente em um tempo de prufunda descrença e desesperança. Talvez por isso mesmo tais pregadores obtenham sucesso em sua empreitada, mesmo sendo os seus discursos desprovidos de profundidade e até mesmo de coerência em alguns casos.
Os conceitos de liberdade e religião são disctitidos pelo mesmo professor citado acima que assevera:
“Quanto mais glória, quanto mais história, quanto mais orgulho tiver havido antes da decadência, quanto mais “indevida” for a situação de miséria atual, tanto mais êxito fácil alcançará o líder que souber canalizar os ressentimentos da massa que, guiada pela retórica e pelos resultados espetaculares da seita ou do movimento, não se importará muito com a supressão da liberdade e a falta de ética dos métodos utilizados. Afinal, o grupo de eleitos está numa missão e eles são os “autênticos fiéis”, a militância de Deus.”
E prosegue afirmando:
“Há alguns ingredientes que podem catalisar e agudizar essa consciência de revanche de Deus por parte de instituições radicais: o anúncio, mais ou menos velado, da proximidade do fim do mundo - uma constante nos fanatismos cristãos, embora o próprio Jesus Cristo, quando perguntado, alegou não saber quando ocorreria (Mt 24, 36) -, a propensão a difundir disparatadas “profecias” e “aparições” que “confirmem” os “sinais” de que o fim dos tempos está muito próximo e o “Anticristo” já está circulando por aí... sinais que, como era de esperar, incluem a “imoralidade nunca vista” dos nossos tempos. É o ressentimento contra a secularização, a mídia, o mundo, que erradicaram o sagrado e o hostilizam...”
Diante de tudo o que foi exposto, dá para se ter uma noção do perigo representado pelo fanatismo religioso. Muitas vezes, as pessoas fanáticas perdem a capacidade de pensar racionamente e levam quase tudo para o âmbito da sua fé. Todos os que não comungam da sua religião, não raro, são vistos como inimigos em potencial.
Nesse sentido, o Deus vingador expresso em algumas partes da biblia como na passagem de atos 17 que diz:
(“...) A ira de Deus está sendo “reservada” e está para ser direcionada para aqueles que rejeitam a revelação de Deus sobre Ele mesmo.”
Esse Deus que se vinga daqueles que o rejeitam se encaixa como uma luva no discurso radical e irracional desses “pregadores da boa nova.”
Mas a sociedade contemporânea já é suficientemente complicada e cheia de culpas e medos para que busquemos ainda mais sofrimentos ancorados num suposto sentido religioso. Vivemos cheios de fobias (medos) e criamos verdadeiros monstros como a síndrome do pânico que além do medo nos tira o que é fundamental para qualquer ser humano que é a liberdade.
Trabalhamos muito para dar boa educação e tudo do bom e do melhor para a nossa família, mas ficamos culpados por não termos muito tempo para os nossos filhos que muitas vezes crescem sem nos darmos conta disso. Temos que conciliar muitos afazeres (principalmente as mulheres) e muitas vezes não temos tempo suficiente para dar conta de tudo.
Enfim, não precisamos buscar outras formas ou maneiras de nos tolhermos em uma sociedade que já não nos dá o direito à liberdade devido à banalização da violência e na qual o medo e culpa já está presente no cotidiano de quase todos nós.
Francisco Lima
Um comentário:
AS VEZES ABRIMOS MÃO DE MUITOS PRAZERES QUE A VIDA NOS OFERECE POR CAUSA DE MEDOS INFUNDADADOS BASEADOS EM ERRADOS CONCEITOS RELIGIOSOS.
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