quarta-feira, 26 de maio de 2010

PROFESSORES x EDUCADORES...

Professores X educadores

Ando pensando muito sobre a situação caótica a que chegou a educação pública (e, em muitos casos, a privada também) em nosso país e me pergunto onde estariam as belas teorias de celebres educadores como Paulo Freire. Lembro-me também, imediatamente, de uma frase de Rubem Alves que é um
psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro. Ele faz uma pergunta em tom de brincadeira, mas que traz no seu bojo uma reflexão muito séria que é, a meu ver, uma das chaves para explicar a crise pela qual passa a educação nesse momento: educadores, onde estarão? Ele ainda arremata com com outra frase cortante : em que covas se terão escondido?
Para o autor citado acima, professores há aos milhares, mas de acordo com ele professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ainda segundo Rubem Alves, é vocação, não é profissão.
O mesmo autor segue na sua indagação sobre as profissões que desaparecerem por obsolescencia e e faz uma analise interessante sobre a profissão docente:
“E o educador? Que terá acontecido com ele? Existirá ainda o nicho ecológico que torna possível a sua existência? Resta-lhe algum espaço? Será que alguém lhe concede a palavra ou lhe dá ouvidos? Merecerá sobreviver? Tem alguma função social ou econômica a desempenhar?”
Alves acredita que no mundo moderno, racionalizado e capitalista pode ser que educadores sejam confundidos com professores, da mesma forma como se pode dizer: jequitibá e eucalipto, não é tudo árvore, madeira? No final, não dá tudo no mesmo?
E conclui o seu raciocínio arrematando:

“Não, não dá tudo no mesmo, porque cada árvore é a revelação de um habitat, cada uma delas tem cidadania num mundo específico. A primeira, no mundo do mistério, a segunda, no mundo da organização, das instituições, das finanças. Há árvores que têm uma personalidade, e os antigos acreditavam mesmo que possuíam uma alma. É
aquela árvore, diferente de todas, que sentiu coisas que
ninguém mais sentiu. Há outras que são absolutamente idênticas umas às outras, que podem ser substituídas com rapidez e sem problemas.”

Para o autor:
“Os educadores são como as velhas árvores. Possuem uma fase, um nome, uma “estória” a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma “entidade”suigeneris, portador de um nome, também de uma “estória”, sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo pra acontecer neste espaço invisível e denso, que se estabelece a dois. Espaço artesanal.”

Por outro lado:

“Professores são habitantes de um mundo diferente, onde o educador” pouco importa, pois o que interessa é um crédito” cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Por isto mesmo professores são entidades “descartáveis”, da mesma forma como há canetas descartáveis, coadores de café descartáveis, copinhos plásticos de café descartáveis. De educadores para professores realizamos o salto de pessoa para funções.”

Pelo que se viu acima, a visão do educador Rubem Alves já era bastante progressista e pode ser comparada em diversos aspectos com a de Paulo Freire, um contemporâneo de Rubem. Este ultimo, aliás, é referencia até hoje mundo afora e teria feito uma grande revolução na educação brasileira se não tivesse as suas ideias tidas como subversivas e sido perseguido pelos militares após o golpe de 1 de abril de 1964.
É muito triste vermos que as brilhantes ideias de Freire, Alves, Moacir Gadotti entre outros não sejam levadas a serio em muitas instituições educacionais. Muitos professores ( que relutam em ser educadores) consideram que esses caras são verdadeiros visionários que desconhecem a situação real das nossas escolas.
Lamento que tenhamos chegado a um ponto tão critico, mas, eu acredito que uma das razões para a tão grave crise educacional que vivemos é justamente por não termos considerado a ajuda tão valiosa desses autores.
Outros problemas há que influenciaram negativamente e de forma decisiva o nosso sistema educacional. A herança tecnicista da ditadura levou a esse modelo de avaliação que, em muitos casos, ainda prevalece que é o de perguntas e respostas fechadas, sem que o aluno tenha direito de se expressar.
Paulo Freire pregava um modelo educacional dialógico, que considera que o estudante também possui muito saber e este pode e deve ser expresso. Para Freire até os trabalhadores analfabetos possuem muita sabedoria devido a sua rica historia de vida.
Na sua visão de grande educador, Freire considerava que todos eram estudantes, ou seja, aquele que busca conhecimentos. Na verdade, os trabalhadores buscavam os conhecimentos sistematizados para agregar mais ao que já possuíam de leitura do mundo.
Ninguém, nesse sentido, poderia ser considerado aluno, que quer dizer ser sem luz. Essa palavra soa obsoleta na teoria educacional freiriana que sempre pregou que o conhecimento se produz de uma forma dialética, isto é, há uma mão dupla em que o professor não só ensina, mas também aprende muito com os estudantes.
Infelizmente, hoje ainda vemos muitos professores que se acham donos exclusivos do saber. Lecionam determinada disciplina e acham que os alunos (não estudantes nesse caso) são seres ignorantes que devem agradecê-los por estar “depositando um pouco do que sabem em suas cabeças vazias.” É o que Paulo Freire denominou de “educação bancaria.”
É verdade que o grau de desmotivação dos estudantes nunca foi tão grande. Poucos se interessam pelas aulas que são dadas no modelo tradicional. Os conhecimentos transmitidos não fazem sentido para eles e é difícil prender-lhes a atenção.
No entanto, quando o professor se propõe a ser mais flexível e começa a mudar de estratégias. Quando ele começa a utilizar outras ferramentas como filmes e começa a ouvir a opinião dos estudantes sobre como utilizar novos métodos para tornar as aulas mais agradáveis, o interesse pode aumentar substancialmente.
Eu sei é que tá complicada a situação. A desvalorização do magistério leva a desmotivação dos mestres que tem que trabalhar em varias frentes para conseguir pagar as suas contas no final dom mês. É imprescindível que essa situação se reverta o mais rápido possível, mas isso não pode ser motivo para que percamos os nossos ideias.
Precisamos urgente fazer essa metamorfose que transformará professores em educadores e alunos em estudantes. Não é apenas uma questão de designação ou de nome. Trata-se de uma mudança que não pode mais esperar.
Para que isso aconteça, no entanto, muitos de nós, professores, teremos que descer do pedestal em que nos encontramos agora até nível dos alunos, já que, erroneamente, nos achamos superiores. Enquanto nos mantivermos nessa “cômoda situação” de falsa superioridade, não nos transformaremos em verdadeiros educadores.
Eu sei que é difícil equacionar essa situação nesse momento em que a indisciplina grassa nos ambientes educacionais. Mas, as mudanças podem acontecer com respeito mutuo, sem confundir disciplina com autoritarismo, um dos grandes motivos de atraso em nosso sistema educacional.

Francisco Lima

segunda-feira, 3 de maio de 2010

SOCIEDADE PÓS-MODERNA

Sociedade pós- moderna”
O desenvolvimento tecnológico, principalmente a partir do século XIX, foi uma meta perseguida pela ciência, como o meio mais rápido e eficaz para o homem encontrar a tão almejada felicidade. Que maravilha seria se essas previsões se concretizassem! Queríamos poder acreditar que todo esse “progresso” trouxe bem estar a toda humanidade ou, pelo menos, à maior parte dela. Mas, está acontecendo um paradoxo que ao mesmo tempo em que leva a possibilidades nunca antes vistas na aquisição de bens e serviços em geral, traz uma insatisfação que afeta a todos, sem distinção. Ou seja, ao contrário do que imaginavam os pensadores do século XIX, vê-se um avanço generalizado da ciência, mas, concomitantemente, nunca se viu tanta disparidade de estilos de vida, tanta insatisfação e, sobretudo, tanta perplexidade diante do futuro do homem.
É verdade que muitos dos paradigmas vigentes no século XIX e que sobreviveram até bem recentemente estão sendo quebrados e isso pode estar levando muita gente a não achar novas referências para substituí-los. Alguns estudiosos como Mônica Rangel da UFF afirmam que:
“As descobertas dos cientistas na área das ciências naturais e os estudos na área das ciências sociais, contribuíram para a descrença e o descrédito de antigos mitos e dogmas que, durante muitos séculos, fundamentaram a conduta e a organização da sociedade.”
É bem verdade que a autora do artigo citado faz uma discussão sobre os pressupostos que norteiam a ciência, mas, eu acredito, pelo menos em parte, que ele possa ser aplicável também à sociedade e os problemas que ela enfrenta no momento atual, pois muitos dos dilemas enfrentados pela ciência se estendem à sociedade como um todo.
Esse descrédito e a descrença quase que generalizada dentro da sociedade está levando a um pessimismo sem precedentes que contamina muita gente. Não existe mais o sonho de se lutar por uma sociedade melhor e o individualismo está se alastrando como uma epidemia em nossas sociedades. E essa onda de pessimismo é um fenômeno democrático que atinge a todas as classes, pois contaminou até o historiador norte-americano Francis Fukuyama que, em 1989, declarou o fim da História. Para ele, a História havia chegado ao seu final e todos os países do mundo se juntariam ao redor de um sistema político e econômico, chamado de democrático, o qual muitos chamam de neoliberal. O futuro da humanidade teria apenas um caminho, o pensamento único e, nesse sentido, a História teria acabado.
É claro que posteriormente, após algumas crises econômicas, o mesmo Fukuiama reviu ou, pelo menos, reavaliou em parte a sua posição.
O fato é que muitos jovens vivem sem expectativa e sem perspectivas de futuro. Não têm vontade de estudar e é muito difícil convencê-los dessa necessidade. Em muitos casos, as relações humanas estão sendo substituídas pelas relações virtuais devido a uma serie de fatores, entre eles, a violência que está se banalizando e atinge até as escolas, coisa inimaginável até algum tempo atrás. As chamadas doenças psicossomáticas que são manifestações orgânicas provocadas por problemas emocionais e causam depressões, tensões nervosas entre outras coisas são a uma constante em nossas sociedades. De acordo com o psiquiatra Augusto Cury, o normal nas sociedades modernas é ser neurótico, isto é, apresentar algum dos vários sintomas que caracterizam as doenças psicossomáticas, ou seja, quase não existe quem consiga sair imune dessa onda avassaladora de estresse que nos circunda.
Mas, o que fazer então, devemos considerar que não há mais saída? Será que não há solução?
Temos que acreditar que sim e o mesmo Augusto Cury, citado acima nos dá algumas saídas para que possamos ser vencedores nessa difícil batalha. Esse autor em seu livro pais brilhantes, professores fascinantes constata que os jovens não são preparados para lidar com as decepções. Eles são treinados apenas para o sucesso e viver sem problemas é impossível. O sofrimento, de acordo com o autor, nos constrói ou nos destrói. Devemos usar o sofrimento para construir a sabedoria. Partindo dessa premissa, podemos deduzir facilmente que todo o sistema social estaria no caminho errado, isto é, na contramão dessa teoria, pois condena os erros e, muitas das vezes, obstrui a capacidade das pessoas que ficariam com receio de se expressar com medo de errar novamente.
Para Augusto Cury as escolas cometem um grande equivoco ao não valorizar a criatividade dos alunos, focando em supostos erros e acertos. Segundo ele: “As provas escolares que estimulam os alunos a repetir informações, além de pouco úteis, são frequentemente prejudiciais, pois engessam a inteligência. As provas deveriam ser abertas, promover a criatividade, estimular o desenvolvimento do livre pensamento, cultivar o raciocínio esquemático, expandir a capacidade de argumentação dos alunos. Os testes e as perguntas fechadas deveriam ser evitados ou pouco usados como provas escolares. Nas provas deveria ser valorizado qualquer raciocínio esquemático, qualquer ideia organizada, mesmo que estivessem completamente errados em relação à matéria dada. É possível dar nota máxima para um raciocínio brilhante baseado em dados errados. Isso valoriza pensadores. A exigência de detalhes só deveria ser solicitada aos especialistas na universidade e não no ensino fundamental e médio.”

Para Augusto Cury, a grande crise pela qual estamos passando tem muito das suas raízes na escola que tem que mudar urgentemente. Segundo ele, “A escola não esta educando a emoção nem estimulando o desenvolvimento das funções mais importantes da inteligência, tais como contemplar o belo, pensar antes de reagir, expor e não impor as ideias, gerenciar os pensamentos, ter espírito empreendedor. Estão informando os jovens, e não formando sua personalidade. Os jovens conhecem cada vez mais o mundo em que estão, mas quase nada sobre o mundo que são. No máximo conhecem a sala de visitas da sua própria personalidade. Quer pior solidão do que esta? O ser humano é um estranho para si mesmo! A educação tornou-se seca, fria e sem tempero emocional. Os jovens raramente sabem pedir perdão, reconhecer seus limites, se colocar no lugar dos outros
O autor afirma ser essa uma das principais razões para a grave crise social que estamos passando, pois nunca as pessoas tiveram tantos transtornos emocionais e tantas doenças psicossomáticas e o que raramente atingia as crianças, hoje não as poupa já há muitas crianças deprimidas e sem encanto pela vida. Pré-adolescentes e adolescentes estão desenvolvendo obsessão, síndrome do pânico, fobias, timidez, agressividade e outros transtornos ansiosos. Milhões de jovens estão se drogando. A solução desses problemas, segundo o mesmo autor, passa pelos pais e pelos professores, ou seja, a educação de casa deve ser complementada por uma boa (ou melhor ótima) educação escolar.
Segundo Cury, Precisamos ser educadores muito acima da média se quisermos formar seres humanos inteligentes e felizes, capazes de sobreviver nessa sociedade estressante
e que pais ricos ou pobres, professores de escolas ricas ou carentes podem igualmente praticar esses hábitos. Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem serenidade para se esvaziar e sensibilidade para aprender.
Parece simples a receita não é? Mas eu acredito que só com muita luta e vontade poderemos mudar esse panorama. Ao contrario de muita gente, eu creio que a maior revolução é essa que ainda está por ser feita. A mudança de rumos de nossa sociedade seria a maior de todas as revoluções. Mas, a batalha é hercúlea. Não precisamos, porém de armas para levar a efeito essa “verdadeira guerra.”
O começo de tudo isso pode se dar pela inversão dessa lógica que valoriza o ter em detrimento do ser. Os pais que não ensinam seus filhos a ter uma visão crítica dos comerciais, dos programas de TV, da discriminação social os tornam presas fáceis de um sistema predatório. Para este sistema seu filho é apenas um consumidor em potencial e não um ser humano. Prepare seu filho para "ser", pois o mundo o preparará para "ter". Esse caminho já seria um bom começo para empreendermos essa grande revolução. O ser humano necessita dessa mudança para evitar uma catástrofe ainda maior que poria em risco toda a nossa espécie. Precisamos pensar em um futuro melhor para os nossos filhos.
Façamos um grande esforço e resgatemos o nosso ser e lutemos contra esse monstro de sistema que nos transforma em meras maquinas de consumir.
Não se trata lutar pelo fim do sistema capitalista, mas de trabalhar por uma sociedade mais consciente, justa e solidaria. Trata-se do resgate na nossa condição humana que, a meu ver, está se perdendo.

Francisco Lima